A Bélgica está à beira de uma secessão. Como sabem, tem duas populações, os Valões e os Flamengos, com as suas próprias línguas - e cada vez mais hostis. Estive em Bruxelas há 10 dias e a vitória eleitoral da Nova Aliança Flamenga radicalizou o antagonismo entre a Flandres (norte) e a Valônia (sul). A própria capital é um atol francófono em Flandres. Para terem uma ideia de onde já chegou o extremismo, 99% das livrarias de Bruxelas só têm livros em flamengo (ou em inglês) - em francês, bulhufas (nicles)! E os cardápios (ementas) dos restaurantes vêm em flamengo (dialeto do holandês). É um exemplo arrepiante da crise de identidade - antropológica e filosófica - de toda a União Européia. Acudiu-me à memória o espírito que era uma síntese transcendente da encrenca belga e um admirável artista e ser humano: Jacques Brel (morto há 32 anos).
Brel era um caleidoscópio militante - e coerente. Filho de pai flamengo, era francófono, mas satirizava tanto a sociedade burguesa de Bruxelas (em "Les Bourgeois") como o chauvinismo novo-rico dos valões ("Les Flamandes"). Amava a Bélgica, a precária harmonia universalista, como explica à filha no vídeo 1. Com saco cheio do maniqueísmo recíproco, marchou para Paris, onde foi descoberto por Jacques Canetti (irmão de Elias Canetti, Nobel de literatura). Canta com Georges Brassens e aí não pára mais. Chega a ultrapassar 365 shows em um ano (em 1974, sete espetáculos em uma noite). Em 77, estava um bagaço: grava o último disco ("Brel"). Apesar de recusar toda a publicidade, o mais de 1 milhão de álbuns estavam reservados antes da edição e mais 700 mil foram comprados no primeiro dia de vendas. Morreu pouco depois, deixando, entre um colar de pérolas musicais, a súplica - sublime/abjeta - do amor como pedinte rastejante que renuncia a qualquer amor-próprio: "Ne me quitte pas" (vídeo 2, versão Maysa). Hoje, os valões juram que ele era valão, e os flamengos que era flamengo (até agora ninguém disse que era Fluminense). Recorda-me a frase de Einstein: "Se a minha Teoria da Relatividade estiver certa, a Alemanha dirá que sou alemão e a França me declarará 'cidadão do Mundo'. Mas, se estiver incorreta, a França dirá que sou alemão, e os alemães que sou judeu".
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