Há 20 anos, entrevistei o embaixador do Brasil em Portugal (já não me lembro a propósito de quê - afinal, já faz muito tempo: há duas décadas eu era pelo menos 30 anos mais novo. Ele recebeu-me com uma cordialidade fleumática, um nadinha alheada, como se tivesse mais o que fazer (duvido). Mal podia imaginar que, anos depois, eu seria um escritor mundialmente famoso em Caxias. Bom, vida que rola, saiu esta semana a edição brasileira de Eugênio Oneguin - que eu saiba, a primeira tradução portuguesa da obra-prima de Pushkin, depositado por muitos no mesmo pedestal da DIVINA COMÉDIA de Dante, do FAUSTO de Goethe e das peças e sonetos de Shakespeare. Ora, agora adivinhem lá quem é o tradutor? Dario de Castro Alves, o mesmo embaixador (hoje ex) que entrevistei no século passado. Já sabia que ele era um literato, e até um especialista em Lisboa, sobre a qual publicou um livro: ERA LISBOA E CHOVIA. Se fosse sobre Londres, bastava intitular-se ERA LONDRES. Se a tradução é boa? Sei lá, não vi. Li Oneguin numa tradução inglesa, comprada num alfarrabista ao pé do Royal Observatory (foto), em Greenwich, juntamente com uma airosa mas veterana edição de bolso de EMINENT VITORIANS. Sei é que a tarefa não é canja: só em inglês há mais de dez versões do Eugénio Oneguin, nenhuma considerada plenamente satisfatória, incluindo a de Vladimir Nabokov, que era russo e um craque no idioma de Shakespeare (por causa da sua tradução de Puhskin, brigou com o proeminente crítico e até então amigo do peito Edmund Wilson, o qual, por sua vez, também tentou a sua sorte com Oneguin). Sim, mundo pequeno. Mas é o que há. Pushkin morreu em 1837, num duelo (os escritores não têm lá muito jeito para duelos - há vários casos em que dispararam, ou espetaram, demasiado tarde). Borges, como sempre, tinha um ideia intrigante: a de que os países tendem a entronizar como os seus supremos vultos literários os autores que menos espelham o carácter nacional. Assim, um Shakespeare passional numa Inglaterra minimalista e protocolar, um Goethe universalista numa Alemanha nacionalista, um Cervantes espirituoso e tolerante na Espanha monástica e austera da Inquisição. E um Camões o quê? E um Machado idem? Ah, Pessoa está bem, a emborcar a penúltima no Martinho, tristinho da silva. Por falar em Machado de Assis e no ex-embaixador Castro Alves, um dos principais poetas românticos brasileiros chamou-se Castro Alves. No primário, tínhamos um gracejo tontinho: "Quem castrou Alves? O machado de Assis!". Sim, é um mundo pequeno (e não dos melhores).
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