Desde que a crise financeira desembestou, o nome dele tilinta. Quando Obama anunciou um plano para a criação de 2,5 milhões de empregos até 2011, as trombetas rugiram: KEYNES! E, com a nacionalização do BPN, de novo: KEYNES! Quem? John Maynard Keynes (K), um dos maiores economistas da história – mas será que ele brotou do sarcófago como um Tutankamon, ressuscitado pelo fiasco do livre-mercado e o banzé financeiro? Nada. K nunca saiu de cena – os anos 1945-1975 foram mesmo chamados “A Era Keynes”. E antes ele publicou um livro profético, avisando que as reparações impostas à Alemanha após a I Guerra causariam a II (bingo!). Simplificando, K postulava que política fiscal deve ser esgrimida para compensar as oscilações dos ciclos económicos. Foi o mentor do New Deal, de Roosevelt. Muitos políticos adoram o keynesianismo porque acham que ele legitima a sofreguidão deles por torrar dinheiro público (carteiristas do nosso bolso). Parte da Esquerda perfilhou K como meio de manter o credo socialista sem apoiar o totalitarismo soviético. Mas K não era de esquerda, socialista ou estatista, nem aqui nem na China (aliás, sabem porque os chineses são tão parecidos uns com os outros? Porque são todos cópias piratas!). Ora, a ideia de que os mercados são totalmente desregulados é besta. Há normas para quase tudo: abrir o capital de empresas, operar bancos, produzir medicamentos ou pôr um táxi na praça. Quimeras à parte, o Estado é indissociável do capitalismo. Raios, é dele que emanam as garantias de direitos de propriedade e de respeito aos contratos, assim como a defesa da concorrência (é ele quem coíbe os cartéis). Sem regras claras e ajuizadas pelo árbitro estatal, não há pontapé de saída no futebol do mercado. Nem a Internet existiria sem o Estado. K integrou o Grupo de Bloomsbury, uma plêiade de artistas e intelectuais britânicos em que pontificava Virginia Woolf. Foi inabalavelmente gay até conhecer a bailarina Lydia Lopokova, dos Ballets Russos de Diaghilev, onde Niijinsky dançava conforme a música e Picasso pintava o caneco. Lopokova (na foto, a saracotear com K.) devia ser feérica – Picasso retratou-a muitas vezes e J.M. Barrie (o criador de Peter Pan) dedicou-lhe uma peça. Mais assombroso ainda, ela converteu K às maravilhas da heterossexualidade: casaram e foram felizes para sempre (ao contrário dos outros membros daquele cenáculo – e da maioria de nós –, infelizes no amor). Resumindo: Keynes não voltou, porque nunca foi. Ah, um dia, ele – supostamente estatizante e planeador inveterado – ouviu alguém falar em “longo prazo”. Grunhiu: “Ora, a longo prazo estaremos todos mortos”.
(Texto publicado na revista de Domingo do Correio da Manhã)
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