Certo, a filosofia já se debruçou antes sobre o humor. Até mesmo para definir ontologicamente o ser humano. Aristóteles (cujo tratado sobre a comédia se perdeu, como Umberto Eco participou ao mundo) proclamou que o homem é o único animal que ri (negligenciando a hiena, que ri-se como Eddie Murphy). Mais até: no seu livro especificamente sobre o cómico – Le Rire -, Bergson observou que todo o humor tem uma conotação humana, caso contrário não tem graça. Uma paisagem pode ser bela ou soturna, nunca cómica.
Todavia, os filósofos não se celebrizaram propriamente por serem tipos impagáveis. Lembremos que num acesso de neura, Wittgenstein chegou a atirar um atiçador de lareira à cabeça do seu colega Karl Popper. E um Schopenhauer propôs que os homens parassem de procriar, de modo a que a insuportável humanidade se extinguisse.
Há histórias da filosofia ocasionalmente espirituosas, como a (esplêndida) História da Filosofia Ocidental, de Bertrand Russell. Mas Platão e um Ornitorrinco entram num bar vai muito mais longe: percorre os sistemas filosóficos através de anedotas que os exemplificam e elucidam. É uma ideia encantadora, sobretudo por que a esmagadora maioria das piadas são hilariantes – e de facto pedagógicas, ainda que de uma maneira derrisória para os respectivos pensadores.
É quase impossível escolher uma delas, tal a abundância e a graça. Mas, já que falei acima de Wittgenstein, selecciono uma sobre a filosofia da linguagem e a sua ambiguidade. Bill foi visitar o amigo Bob, que estava a morrer no hospital. À cabeceira do amigo, a saúde de Bob piorou e ele gesticulou freneticamente a pedir algo onde pudesse escrever. Bill deu-lhe uma caneta e um papel e Bob rabiscou algo. Mal acabou, morreu. Bill guardou o bilhete no bolso, incapaz de o ler naquele momento. Durante o velório, junto da pesarosa família de Bob, Bill apercebeu-se de que o bilhete estava no bolso do casaco e anunciou: “Bob entregou-me um bilhete mesmo antes de morrer. Ainda não o li, mas conhecendo-o como o conhecia, sei que serão palavras inspiradoras para todos nós.” E leu em voz alta: “ESTÁS A PISAR O MEU TUBO DE OXIGÉNIO!”
Espero que tenham apreciado. Se não, cito a epígrafe do livro, de Groucho Marx: “Estes são os meus princípios. Se não gostarem, tenho outros”.
(Texto publicado no caderno Actual do semanário Expresso)
. ...
. E AGORA, COM VOCÊS, HITLE...
. “CONSIDEREI ESCREVER UM R...
. CLARO QUE ELE ADORA PITBU...
. ALTA COSTURA E ALTA CULTU...
. ALICE NO PAÍS DAS MARAVIL...
. CASAIS DE ESCRITORES: PAL...
. LIVROS? DEUS ME LIVRE! 1 ...
. ÇA VA?
. RESORT 1 ESTRELA (NO PEIT...
. O ETERNO RETORNO DO ETERN...
. O BARDO DO FARDO E O TROV...
. ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA D...
. SEXO E OUTRAS COISAS EMBA...
. PUSHKIN, O EMBAIXADOR E E...
. A ÚLTIMA CEIA DO MODERNIS...
. Blogues de Estimação
. O Jardim Assombrado
. O Albergue Espanhol
. O Bibliotecário de Babel
. Ricardo D Ilustrações
. The Elegant Variation
. The Book Bench
. Think Tank
. Horas Extraordinárias
. Goings On
. Ler
. somsencompletelydifferent
. Delito de Opinião
. therestisnoise
. /papeles-perdidos
. No Vazio da Onda
. O Perplexo
. Ciberescritas
. Porta-Livros
. Papeles Perdidos