Não é estranho que o autor de um dos melhores livros (Sleepwalkers, Os Sonâmbulos) de divulgação científica de todos os tempos acreditasse (ou pelo menos admitisse) também em parapsicologia e quejandos? Nem por isso. Afinal, Arthur Koestler, nascido em Budapeste em 1905, acreditou piamente, durante muitos anos, que o Comunismo seria o paraíso na Terra - e não os vários modelos de Inferno que demonstrou ser. E já Sir Isaac Newton tinha dedicado mais tempo de vida à procura da pedra filosofal e da transmutação de chumbo em ouro segundo a alquimia do que à gravitação universal ou à rarefacção da luz. O escritor Conan Doyle, criador do ultrarracional Sherlock Holmes, acreditava em espíritos, reencarnações e ectoplasmas
Koestler pelo menos redimiu-se e deixou a melhor obra de ficção contra o totalitarismo, Darkness at Noon (Trevas ao Meio-Dia), inopinadamente traduzido para o francês e o português como O Zero e o Infinito. Sim, melhor que 1984 e Animal Farm (de Orwell) ou O Admirável Mundo Novo (de Aldous Huxley) ou Nós, de Y.I. Zamiatin.
George Steiner, que foi amigo de Koestler, conta que um dia ambos estavam a dar um passeio pelo campo e Koestler desatou a abordar "coincidências estranhas". Não era estranho que o secretário de Lincoln, chamado Kennedy, tivesse implorado ao presidente que não fosse ao teatro (onde seria assassinado), como, mais tarde, o secretário de Kennedy, chamado Lincoln, tivesse suplicado ao presidente que não fosse a Dallas? O assassino Booth não matou Lincoln num teatro, refugiando-se em seguida num armazém, e Lee Harvey Oswald não abateu Kennedy a partir de um armazém, escondendo-se depois num teatro? E não era verdade que os sucessores de ambos os presidentes chamavam-se Johnson?
Confidencialmente, é estranho. Se eu já não fosse demasiado calejado para conversões, convertia-me a.... bem, sei lá a quê.
Koestler comeu o pão que o diabo amassou: conheceu o exílio, a prisão, a vilificação, o isolamento e a pobreza. Exilado em Paris, assistiu a ocupação da França por Hitler. Nunca foi convidado para uma casa francesa. Escreveu que "um francês seria capaz de abraçá-lo e depois deixá-lo tremendo de frio, na rua." A opinião dele não melhorou quando foi preso pela polícia colaboracionista e recolhido a um campo de concentração.
Muitos anos depois, já tendo adotado a nacionalidade britânica, fez um pacto de suicídio com a sua mulher Cynthia. Quando foi acometido por uma doença incurável que o teria submetido a um suplício servil e inútil, ambos mataram-se na sua recatada casa londrina, no bairro de Knightsbridge, após duas belas chávenas de chá envenenado.
Aliás, Koestler era vice-presidente da "Exit" (Saída), uma sociedade cujo postulado é que saiamos desta vida a tempo, com dignidade, antes de perder as faculdades, sem passar pelo ignóbil trâmite da decadência intelectual e física. O gesto pode ser discutido, mas é difícil não lhe reconhecer a elegância.
A nota de suicídio continha a seguinte passagem: "Desejo que os meus amigos saibam que deixo a sua companhia num estado de espírito sereno, acompanhado por algumas esperanças tímidas numa sobrevivência posterior para lá dos confins do espaço, do tempo e da matéria, e para além dos limites que podemos compreender. Este 'sentimento oceânico' serviu-me muitas vezes de apoio em momentos difíceis e apoio-me nele uma vez mais, enquanto escrevo estas palavras".
Nada a acrescentar.
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