Persignemo-nos: aos 81 anos, está com os pés para a cova um dos responsáveis pela prática do sexo sem culpa – ou seja, da coisa que é mais divertida sem nos rirmos. Mas levou um vidão: na última foto, Hugh Hefner, já octogenário, surge rodeado de uma plêiade de beldades cujas idades somadas não roçam à dele.
A Playboy tão-pouco é uma Lolita, mas uma cinquentona (nasceu em 1953). E a primeira playmate, Janet Pilgrim, já tem bisnetos! Quando HH concebeu a revista, fê-lo para um homem que não existia: independente, liberal, urbano e determinado a sorver a vida não em colherzinhas de chá, mas em conchas de sopa. O perfil incluía apreço pelo jazz e a fina-flor da literatura da época, de Nabokov a Bradbury. E familiaridade com a corrida atõmica ou a era espacial. Enfim, uma mistura de James Bond com príncipe renascentista.
Hugh Hefner quis que este cliente tivesse tudo do bom e do melhor: para textos de economia, contratou J. Paul Getty, o fulano mais rico do mundo; para os de sexo, o casal de médicos Masters & Johnson. E isso com uns tostões que pediu emprestado à sua própria mãe (imaginem: depenar a genitora para lançar a Playboy! O que Freud diria?) Produziu o primeiro exemplar na mesa da cozinha e acabou na Mansão Playboy, uma espécie de Graceland erótica.
Volta e meia, a revista servia um capítulo inédito de Ian Fleming, com o próprio 007. E quando dedicou oito páginas à nudez inefável de Brigitte Bardot, quem assinou as legendas? André Malraux. O VIP mais irascível, que não abria a boca nem para bocejar, nas entrevistas da Playboy falava pelos cotovelos (casos de Sinatra e Miles Davis). Com a sua cama-catapulta, um leitor daqueles nunca precisaria de sexo pago (apesar de este ser com frequência mais barato do que o gratuito). E as playmates jamais pareciam sirigaitas, mas a vizinha do lado (girl next door). A revista chegou a vender 6 milhões de exemplares por mês.
Em 1968, Hefner percebeu que, na calada da noite, algo mudara, ao ouvir uma jovem exclamar: “Agora a gente vai para a cama com um tipo e, bolas!, no dia seguinte ele já te quer levar para jantar!” Ora, se as damas se tornavam mais acessíveis, não era HH quem se ia queixar. Porém, quando em 1970 a Playboy publicou os seus primeiros pêlos púbicos, a concorrência apelou, estampando monólogos da vagina. Um dos segredos da Playboy era destinar-se a um homem de hipotéticos 25 anos – qualquer que fosse a sua idade: “Se ele tiver 45 anos, gostaria de ter 25 outra vez. E, se tiver 13, também gostaria de ter 25”. Hoje, todos os homens desejam ter 13 – incluindo os de 13. E o sexo da net está aí para os saciar e até enjoar. Sem precisarem de se interessar com o jazz, ou a literatura, ou o que acontece no mundo. Um marmanjo que não sabe o que ouve, nem o que houve. De tanto reduzir o foco, limitou o seu vocabulário a uma expressão: “Foda-se!” Ou “Caralho!”. Pobres mulheres. E pobres homens.
(Crõnica publicada na REVISTA DE DOMINGO, do Correio da Manhã)
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