Sexta-feira, 27 de Agosto de 2010

O TABACO SALVA!

Romance & Cigarettes Poster

 

 

O meu Francês não é muito bom. Outro dia, em Paris, fui pedir o isqueiro a um transeunte para acender o cigarro e lhe pedi que me ateasse fogo. E, sem querer, dei com o recôndito “Musée du Fumeur”, pertinho do Père Lachaise. Sim, eu sei: é que os fumadores estão por definição a um passo do cemitério.

Entre ‘sheeshas’ egípcios e cachimbos da paz sioux, deparei com o cartaz: ‘No Smoking!’ (um primo meu, que sabe Inglês quase tão bem como sei Francês, julgou que era proibido usar smoking). No próprio museu do tabaco, anti-tabagismo primário! Ainda ontem, os Franceses esgrimiam os seus Gauloises como floretes de D’Artagnan. Por ocasião da cremação de Jean Cocteau, um fã suspirou languidamente: “Este querido poeta! Extingue-se como um cigarro!”

Desde 1 de Setembro de 2009, não se pode fumar nas repartições públicas da Alemanha, nem nos comboios (trens). Bem, Hitler abominava o tabaco (e era abstêmio e vegetariano – só gostava de carne para canhão e daqueles discursos-chiliques).

Nos clubs e pubs ingleses, gerações de escritores (de Oscar Wilde a Philip Larkin) sugaram inspiração dos seus charutos e louvaram Sir Walter Raleigh, o pirata-cavalheiro que trouxe o tabaco para Europa. Hoje, seriam multados em 75 libras. Na própria terra de Marlboro, os Estados Unido da América, já só se pode fumar debaixo da cama.

Há meses, a Disney anunciou a proibição de cenas de fumo nos seus filmes para adultos. Ah, os penachos que se evolavam das piteiras de Marlene Dietrich e Rita Hayworth! Conseguem imaginar Humphrey Bogart com um chupa-chupa (pirulito) a pender dos lábios sardônicos? Na França, arrancaram dos corredores do Metropolitano os cartazes de um “biopic” sobre Serge Gainsbourg, porque ele aparecia com um Gauloise entre os dedos.

Hoje, para a Sétima Arte, só os serial killers é que fumam. Bom, talvez os pedófilos também – e eventualmente os canibais. E, sobretudo, os serial killers pedófilos canibais.

Admiro aquele fulano que ficou tão horrorizado com o que leu sobre os efeitos da nicotina que parou de ler. Ora, a moderação é a regra de ouro. Nunca fumo mais de um cigarro de cada vez, e evito fumar a dormir. Li “The Cigarette Century”, de Allan Brandt. O século é o XX. No XXI, fumo só mesmo no museu. Em 1964 ficou provado que o tabaco provoca cancro (câncer)  no pulmão. OK, mas a vida não é apenas quantidade: é também “joie de vivre”. O fumo combate o tédio, controla a ansiedade, proporciona consolo e é elegante (bem, mais do que um palito de dentes a bailar nos beiços babões).

Entendo a ira dos fumadores passivos (admito que ser passivo não deve ser mole). Há uns 20 anos, um tio meu estava num comboio (trem), no compartimento para não fumadores. Quando alguém empunhou um maço e lhe perguntou se se importava que fumasse, o meu tio sorriu seraficamente: “Claro que não, se não se importar que eu vomite.”

Mas é pura mentira (uma conspiração do comunismo capitalista, com a conivência diligente da AlQaeda e do Mossad) que o tabaco cause habituação. Falo por experiência própria, pois fumo há décadas. Claro que, fumando como fumo, em breve não precisarei mais de pedir isqueiros emprestados a franceses pirômanos. Afinal, onde há tanta fumaça, tem de haver um foguinho.

publicado por otransatlantico às 13:30
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Sábado, 21 de Agosto de 2010

PINTAR O INSTANTE

 

 

A máquina fotográfica é como o pai de um hipotético bebé de Paris Hilton: só os eunucos não são suspeitos da autoria. A própria palavra “câmara” é uma relíquia da “camera obscura”, que Leonardo da Vinci descreveu nos seus abstrusos cadernos. Também meteram a colher Daguerre, Talbot, Eastman. Este lançou em 1888 a sua primeira Kodak, nome escolhido por causa do K, “uma letra incisiva e forte nas duas extremidades” (em Praga, um certo Franz, segundo o qual a vida é uma praga que alguém nos rogou, concordaria).

Entretanto, em Paris, Nadar fotografava titãs culturais como Balzac,  Baudelaire, Wagner. E grunhia: “A fotografia é uma arte que pode ser praticada por qualquer imbecil.” A foto sedimentou os tiques modernos: o instantâneo e o múltiplo. E libertou os pintores do figurativismo. O que gerou diálogos inopinados na rua: “Oh, que lindo bebé, o seu!” “Ah, mas isso não é nada! Devia ver a fotografia dele!” E Marlene Dietrich ralhou com o seu fotógrafo: “Que diacho se passa consigo? Há anos fazia-me parecer maravilhosa!” “Eu sei”, respondeu o coitado, “mas nessa altura eu era muito mais novo”.

O mais belo objecto do mundo é uma máquina fotográfica: a Leica, esgrimida de Kertész a Friedlander, de Cartier-Bresson a Sebastião Salgado. Nasceu porque o seu inventor, o alemão Oskar Barnack, sofria de asma e não era capaz de carregar os trambolhos existentes de um lado para o outro qual burro de carga. Quando a Leica despontou, em 1925, uns paspalhões gozaram: parecia um brinquedinho de mala de senhora!

Aliando forma e função, lembrava antes um design da Bauhaus. Enquanto uma Nikon ou uma Canon implicam um manual de instruções tipo Antigo Testamento, a Leica abana o rabiosque na palma da nossa mão, como um cachorrinho suplicando para ir dar uma volta ao quarteirão e fazer umas travessuras. Cartier-Bresson, que comprou a sua em 1932, em Marselha, quando vegetava como menino mau de uma família boa, ronronou: “Ela é a extensão óptica dos nossos olhos”.

Por um triz não se chamou ‘Lilliput’, mas alguém sensato desaconselhou Barnack. A série M é a das Leicas clássicas, sobretudo a M3 (6 mil euros a unidade). Com o foco e o cálculo da exposição manuais, não é para mariquinhas  – nada de pilotos automáticos! A rainha Isabel II tem uma M3 desde 1958, e fez questão de posar com ela num selo postal. Coisa do passado? Uma espécie de Flintstone das câmaras? Dobrem essas línguas! Este ano, o site eBay sondou os internautas: “Qual o supremo gadget de todos os tempos?” O Game Boy ficou em quarto, o Walkman Sony em terceiro, o iPod em segundo e – tchan, tchan, tchan! – a Leica em primeiro.

Provou-se uma verdade universal. Eis outra, também na esfera fotográfica: se te pareces com a fotografia no teu passaporte, é porque estás a precisar de umas férias urgentes.

publicado por otransatlantico às 18:36
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Quarta-feira, 18 de Agosto de 2010

LEVANTADO DO CHÃO

(foto de Rui Duarte Silva)

 

Uma versão tipo making of do documentário de Miguel Gonçalves Mendes, José e Pilar, sobre a intimidade do casal Saramago e del Rio, foi exibida hoje na Bienal do Livro de São Paulo. Ela inclui cenas que não constarão do filme, cuja estreia está prevista para Novembro, baseado em 230 horas de gravação, ao longo de três anos, durante a elaboração do romance A Viagem do Elefante. Destaco, sem comentários, duas sequências. Na primeira, o escritor aparece concentradíssimo e ensimesmado, diante do computador, no seu sacrossanto e alquímico escritório. Pilar passa, ele dá-lhe uma palmadinha afetuosa no quadril. Quando a câmara mostra o monitor, o prémio Nobel está a... jogar Solitário.

Na segunda, ele diz à mulher: "Se eu tivesse morrido aos 63 anos, antes de te ter conhecido, morreria muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora."

publicado por otransatlantico às 12:33
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Terça-feira, 17 de Agosto de 2010

VAN GOGH PINTAVA O CANECO

self portrait with bandaged ear and pipe

 

 

 

Há 120 anos, o criador Van Gogh entregava a alma ao Criador propriamente dito. Hoje um dos artistas mais valorizados do Mundo, foi acolhido pela sua época como um leproso numa colónia de nudistas. Brigou com o inimigo do peito Paul Gauguin e cortou a sua própria orelha (felizmente, não pintava de ouvido). Aliás, uma biografia recente jura que foi Gauguin o ceifeiro da tal orelha.

Van Gogh tentou suicidar-se com um tiro na cabeça, mas falhou o alvo (que pontaria!) e atingiu o estômago. OK, tudo está bem quando acaba bem: morreu dias depois, em agonia dilacerante, aos 37 anos.

 


Produziu 2000 obras, mas em vida só vendeu uma mísera tela e mesmo assim por três réis de mel coado. Instrutivo: há dias, a casa de leilões Christie’s, em Londres, alcançou o recorde de vendas num semestre na história do mercado da arte: 3,5 biliões de euros. O preço mais alto foi obtido por um quadro de Andy Warhol (72 milhões de euros). Com o seu conceito de pintura em série, Warhol foi um anti-Van Gogh. O figurativismo de Wahrol dá um jeitão como enfeite – se bem que as telas penduradas nos restaurantes nunca são muito melhores que a comida servida nos museus.

O realismo de Warhol é tal que um homem retratado por ele pode fazer a barba diante do seu retrato. Já Van Gogh ajudou a vingar a pintura abstracta, que, forçosamente, é uma coisa sem pés nem cabeça.

Henri_Matisse_-_Le_Bateau

 


Em 1961, o quadro Le Bateau (reprodução acima), de Matisse, esteve exposto durante 47 dias no Museu de Arte de Nova Iorque, até que alguém notou que estava de cabeça para baixo. Uma multidão de extasiadas 120 mil pessoas já tinham desfilado reverentemente diante da tela quando o equívoco foi apontado. As obras de Jackson Pollock, um mestre moderno, são uma data de rabiscos emaranhados, como se alguém estivesse a tentar fazer escrever uma Bic recalcitrante e se distraísse (considero um génio o pintor que consiga plagiar um quadro dele).

Enfim, a arte moderna é quando se compra uma tela para tapar um buraco na parede, e depois decidimos que o buraco ficava muito melhor. Não, que farisaísmo! Mas o ultraje de ontem é o chique de hoje e o cliché de amanhã. Daí que o sofrimento dilacerante de Van Gogh – que sabia do seu gênio mas queria reconhecimento para autenticá-lo - e comer...) também tenha passado de moda.

Quando perguntaram a Salvador Dali se lhe era difícil pintar, encolheu os ombros: «Não é fácil nem impossível.» Debatendo a falsificação, indagaram ao prolífico Picasso (de longe, o artista mais rico de sempre) como sabia quais eram realmente as suas telas. Resposta: «Se gosto do quadro, digo que é meu. Se não gosto, digo que é falso». Uma coisa é limpinha: ninguém ouve tanta tolice como um quadro pendurado num museu.

publicado por otransatlantico às 11:34
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Sábado, 14 de Agosto de 2010

FAMA E INFÂMIA

 

 

Há dias, a atriz Lindsay Lohan, de 21 anos, foi detida por condução embriagada e posse de cocaína. Há dois meses, acontecera o mesmo – e ela passou uma temporada na clínica Promises, em Malibu, L.A.. Agora exibiu para o juiz as unhas de dois dedos, com o verniz F e U. No início do ano, Britney Spears acampou na Promises por 29 dias, depois de uma série de maluqueiras. Outro hóspede: Mel Gibson, bêbado ao volante. E Ben Affleck, Charlie Sheen, Diana Ross e a milionária profissional Paris Hilton. Já Kate Moss preferiu a clínica The Meadows, no Arizona. Lá, foi colega de Tara Conner, miss EUA, ameaçada de perder a coroa por deboche incontinente.

Não sou propriamente um Vitoriano ou uma Testemunha de Jeová, mas que raio há com essa gente? Ok, Hollywood sempre foi meio pirada. Liz Taylor tem cadeira cativa na clínica Beth Ford. E lidar com o êxito é difícil – nenhum homem está preparado para o sucesso (alheio). Talvez o sucesso signifique precisamente nunca ter de admitir que você é infeliz. Descobrimos que a solidão tem vantagens – por exemplo, poder ir à casa de banho (banheiro) e deixar a porta aberta. Mas aqui há gato.

Nos seus 15 minutos de fama, os colunáveis estão sempre em exposição, como uma estátua na rua. Vira-se uma bola de neve – ou derrete-se. Outrora, o dicionário era o único lugar onde o sucesso vinha antes do trabalho. Hoje, a notoriedade pouco tem a ver com o mérito ou com a substância. Os VIP são célebres por serem famosos – e a fila anda. Alguém aí já ouvi falar de Pontoppidan, Bonaventte, Bjornson, Eucken (eu quem?), Reumond, Echegaray, Heyse, Gjellerup, Deledda, Undset, Laxness, Karfeldt, Anon, Larkvist, Martinson? Tudo prémios Nobel da Literatura, Saramagos no tempo deles. Em compensação, Tolstoi, Kafka, Proust, Joyce, Conrad, Henry James, Bulgakov, Mandesltam, Rilke, Nabokov, Borges e outros esperaram sentados (de preferência, na posição da Esfinge). Agora estão todos deitados, na posição definitiva.

Como autor de romances, descobri que um escritor é famoso no dia em que gente que nunca o leu começa a dizer que já. Não há receita para o êxito. Mas, para o fracasso, há uma infalível: tentar agradar a toda a gente. Aliás, percebi (nas minhas montanhas-russas) que a pior coisa do sucesso é termos de entediar-nos com pessoas que antes eram esnobes connosco. Ah, seja afável com os outros quando estiver a subir, pois vai encontrá-los de novo – quando estiver a descer.

A mania com a celebridade não é de agora. Eróstrato, um grego do século IV A.C., incendiou o Templo de Artemis, em Éfeso, uma das sete maravilhas do Mundo Antigo, com o objetivo confesso de obter a fama a qualquer preço. A população grega foi proibida, sob pena de morte, de pronunciar o nome dele e de registrar o seu feito pelas gerações futuras. O que não resultou: cá estou eu a falar no sacana. Ai de mim. Ai de nós.

Naturalmente, há presos e prisões. O tal do Gibson, um anti-semita cada vez mais fanático, não é Mel – é fel. Em compensação, no século XIX o filósofo Emerson foi visitar o escritor Henry Thoreau na cadeia (encarcerado por uma razão política). Emerson exclamou: “Que diabo estás a fazer aí dentro?” Resposta: “E tu, que diabo estás a fazer aí fora?”

Há circunstâncias na História em que somente os canalhas e os patifes não correm o risco de prisão – seja um comboio de gado para um campo de concentração, seja uma ilha do arquipélago Gulag.

Ah, Lady Gaga, que não é gaga, nem gagá e muito menos lady, tem uma canção auto-paródica intitulada Fame Monster. Mas a do vídeo abaixo, Speechless, é melhor (juro que não estou a trocadilhar com o título....)

 


publicado por otransatlantico às 20:34
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Terça-feira, 10 de Agosto de 2010

CASAIS DE ESCRITORES: PALAVRINHAS OU PALAVRÕES?

 

 

Martha Gellhorn and Ernest Hemingway

The Posh & Becks of their day: Martha Gellhorn and Ernest Hemingway in 1941.

 

 

Dizem as estatísticas de mercado que o público sente uma curiosidade insaciável pela vida íntima dos escritores – especialmente casais de escritores. Um dos motivos – além da mexeriquice pura e simples – deve residir na ilusão de que, se os prosadores conseguem urdir vidas ficcionais onde as coisas se encaixam, as suas existências reais irão fornecer exemplos ainda mais instrutivos.

Um dos méritos do livro “Between the Sheets: The Literary Liasions of Nine 20th Century Women Writers” é precisamente dissipar aquela miragem.

Lesley McDowell atesta que geralmente os escritores são mais trapalhões na vida quotidiana do que as outras pessoas. Para tanto, a autora passou a pente fino a relação de nove pares de pombinhos literários: Katherine Mansfield e John Murry; Hilda Doolittle e Ezra Pound; Rebecca West e H. G. Wells; Jean Rhys e Ford Madox Ford; Anais Nin e Henry Miller; Simone de Beauvoir e Sartre, Martha Gellhorn e Hemingway; Elizabeth Smart e George Barker; e Sylvia Plath e Ted Hughes. Alguns nomes podem soar menos familiares aos leitores, mas acreditem: o talento per capita aqui era abundante.

Então, se não foram felizes para sempre, ao menos o sexo deve ter sido sísmico – com toda aquela imaginação a bordo…Certo? Errado. OK, Samuel Bellow, Nobel da literatura, ronronou: “Se és escritor, toda a gente quer ir para a cama contigo”. Bem, eis uma portentosa extrapolação. Provavelmente Bellow pensava mesmo aquilo, então toda a gente dormia com ele. Mas juro a pés juntos que alguns de nós temos de suar a camisa e fazer das tripas coração: e muitas vezes ficar a chuchar no dedo.

Tanto as coisas entre os casais literários não são um mar de rosas que, por exemplo, Sylvia Plath meteu a cabeça no forno, ligou o gás e matou-se; Doolitle casou com Pound mas gostava mesmo é de mulheres e Simone de Beauvoir angariava amantes para Sartre. Todavia, a maior virtude de “Between The Sheets” é desmantelar um mito. Ou seja, o de que a responsabilidade de tanto infortúnio foi sempre da misoginia dos parceiros masculinos. Como a autora diz: “Estas nove artistas não foram vítimas de modo nenhum: escolheram conscientemente o seu destino e sem o subterfúgio da vitimização”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jean-Paul Sartre with Simone de Beauvoir

Jean-Paul Sartre with Simone de Beauvoir in 1954, Vienna


O sexo era sofrível por causa do egoísmo e/ou da promiscuidade varonil? Logo de caras, Katherine Mansfield avisou o marido: “Primeiro sou escritora, depois sou mulher”. Ora, mas as autoras não usam a sua sexualidade na escrita, como fazem os autores – aliás, como fazem todos os grandes ficcionistas, independentemente do género, que utilizam tudo o que a vida lhes traz?

Tudo bem, Ezra Pound criou o nom de plume de Hilda Doolittle (HD), mas será isto uma manipulação tão medonha? Ah, e ele dactilografava os manuscritos dela, um gesto que não parece lá muito porco chauvinista nem digno de Fred Flintstone.

Henry Miller era um fauno priápico que ou não pensava em nada ou só pensava naquilo? Façamos de conta que sim. Mas Anais Nin (interpretada no cinema por Maria de Medeiros) lhe deu o troco, taco a taco – e talvez até com algum juro. De fato, TODAS as nove escritoras aqui examinadas – muitas delas mártires para hagiógrafas feministas – tiveram casos com homens casados, ou enquanto elas próprias estavam casadas. Sorte dela que aquele odioso Ahmanejad não andava por perto.

Martha Gellhorn, uma das melhores repórteres de sempre (especializada em teatros de guerra…) foi de longe a mais esperta das mulheres de Hemingway. E não era nenhuma florzinha de estufa: sempre se recusou a ter um filho com ele e mais tarde adotou um: “Não há necessidade de parir uma criança quando se pode comprar uma”. Escreveu que o autor de “O Velho e o Mar” “foi o homem menos gentil que conheci, uma espécie de suíno”. Não, ela não queria dizer ideologicamente: “Herdou do pai o gosto por sanduíches de cebolas e, em Espanha, gostava de as mastigar com ingredientes locais e goles copiosos do seu cantil cheio de whisky – eis uma mistura nauseabunda “.

Em 1942, ao saírem de uma festa na qual se enchera a cara, Hemingway teimava em conduzir. Quando Martha ocupou o volante e arrancou, ele esbofeteou-a. Ela abrandou a velocidade e estampou o adorado (e novo em folha) carro do romancista contra uma árvore. Deixou o marido lá dentro, feito num oito - e apanhou um táxi.

 

 

TED HUGHES AND SYLVIA PLATH

 

Os exemplos mais eloquentes (e talvez as duplas mais brilhantes) são os pares Ted Hughes/Sylvia Plath, e Sartre/Simone. Enquanto Sylvia se instalava na fábula como uma sensibilidade de cristal, Ted era pintado como um engatatão impiedoso, com mais namoradas que o Cristiano Ronaldo (e ainda mais novas). Pura treta maniqueísta. Evidências irrefutáveis (para não falar nos seus próprios poemas e textos autobiográficos) demonstram que as perturbações de Plath vinham de longe – de quando ela nunca tinha visto o marido mais gordo. E tão-pouco é verdade que Hughes proferiu este pavoroso (mas divertido) epigrama de humor negro, depois do suicídio da mulher: “Nesses anos todos, meter lá a cabeça foi a única coisa boa que ela fez no nosso fogão”.

Quando, há dois anos, a França começou a comemorar o centenário de nascimento da virtual mãe do feminismo, as solenidades foram ensombradas pela abertura de uma caixa de Pandora sobre a vida íntima da autora de “O Segundo Sexo” (com a sua frase de efeito: “Uma pessoa não nasce mulher – torna-se mulher”. O que é verdade, pelo menos no caso de Roberta Close, aquele atraente transexual brasileiro, e da recente Lea T.).

É certo que ainda foram a tempo de atribuir o nome de Simone de Beauvoir a uma das pontes sobre o Sena e de realizar um seminário na Sorbonne. Mas, logo depois, haja roupa suja para lavar! O “L’Express” interrogou-se se o país estava pronto para desafiar um ícone. Parece que estava em ponto de bala! Pesquisas denunciaram uma “libertinagem calculada” da escritora – ela terá professado um ocasional lesbianismo só para “chocar a burguesia”. Mais: a pensadora sofria de “complexo de Pigmaleão”. O Pigmaleão, claro, era Sartre (que jamais escreveu uma linha sobre ela). O casal (conhecido como “o Fred Astaire e a Ginger Rogers do Existencialismo”) nunca casou nem juntou as escovas de dentes – manteve até ao fim uma “relação aberta”, baseada na “honestidade”.

Ao menos da boca para fora. O que as investigações revelam é que a matriarca do feminismo se sujeitou ao patriarcalismo do filósofo, um tipo glacial, mandão e machista (enfim, o estereótipo do “marido burguês”).

Pior: Simone volta e meia fazia de proxeneta de Sartre, ajudando-o a seduzir jovens alunas de ambos (o filósofo não era propriamente um pão). Nas suas penosas Memórias, Bianca Lamblim conta que, ainda na cama de hotel em que acabara de perder a virgindade, ouviu Sartre a armar-se: “A criada ficará atónita, pois ontem desflorei outra rapariga neste mesmo quarto”.

McDowell não desmente tais factos – só realça que Simone “escolheu-os”, e levou a vida que quis. De Beauvoir admitiu que teve o seu primeiro orgasmo aos 39 anos, não com o filósofo zarolho, mas com o romancista americano Nelson Algren. Numa carta, ela comunica a Algren o seu anseio de “lavar-te a loiça, de avental, e calçar-te os chinelos quando chegares a casa – e serei fiel como uma esposa árabe”. Ah, essas feministas sabem como estragar um homem com mimos…

Portanto, o que “Between The Sheets” comprova é que as ilusões sobre a vida amorosa dos ficcionistas não passam de…ficção. Afinidades eletivas? Ajudam mas não garantem nada. E não são sequer uma exclusividade literária: médicos casam com médicas, arquitetos com arquitetas, cozinheiros com cozinheiras. Pensando bem, casos de amor entre colegas de trabalho acontecem até em conventos.

 

(Texto publicado nas revistas Notícias Magazine DN/JN)

 


publicado por otransatlantico às 21:18
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Domingo, 8 de Agosto de 2010

O DONO DA VOZ

 

 

 

 

 

 

 

Aleluia! Hosana! Iuuuuupiiiiiiiii! Saiu o messianicamente aguardado The Man, the Music, The Legend, coletânea de ensaios de sumidades internacionais que canoniza Sinatra como o maior rouxinol mamífero de todos os tempos. Destaco um aspecto: a sua volta por cima.

Em 1953, o desgraçado comia o pão que o diabo amassou. A Columbia demitira-o com um pontapé nos fundilhos (depois de o obrigar a cantar até com um cão). Programas de rádios e TV? Cancelados para aquela persona non grata oficial. Nas casas noturnas, cantava para mesas vazias, e até as toalhas bocejavam (os copos viravam-lhe as costas, se conseguiam encontrá-las). A MGM rasgara-lhe o contrato como ator. O jornal Variety publicou um anúncio do seu agente, a mandá-lo pastar, lamber sabão, pentear macacos – só faltaram publicar a participação da sua missa de sétimo dia.

A relação com Ava Gardner esfarelava-se : sem que ele soubesse, ela se esgueirava rumo a Londres, para abortar um filho dele. Por que Sinatra não se matou, como qualquer pessoa no seu juízo perfeito teria decidido – por muito menos, aliás? Porque já não se faziam comprimidos como antigamente. Tudo o que conseguiu ao emborcar o frasco com uns 500 ansiolíticos (uma dose capaz de fulminar um brontossauro) foi uma azia vulcânica e mais um escândalo. Jurou que para a próxima serraria os pulsos.

Ava está para os fãs de Sinatra como Yoko Ono para o de John Lennon (fisicamente, claro, as duas eram respectivamente como a Bela e o Monstro). Jean Cocteau descreveu Ava como “o mais belo animal do Mundo” – e, se Cocteau, que não era consumidor do produto, achava isso, calculem Sinatra, que não podia ver rabo de saia sem pôr as manguinhas (e tudo o resto) de fora.

Nancy, então esposa do cantor e mãe dos seus dois filhos, encolheu os ombros: a sirigaita não tinha dotes de dona de casa, e jamais engomaria e dobraria as meias de Sinatra como ele gostava, arrumando-as na gaveta quase que por ordem alfabética!

Mas impedir aquele romance era como arrolhar o Vesúvio. Não durou muito, mas foi um sol da meia-noite, ou uma aurora boreal. Como disse Ava: “Éramos o máximo na cama, mas as brigas começavam a caminho do bidé”. Ela odiava os amigos de Frank, que, depois de tomarem todas, se deitavam de sapatos enlameados na cama do casal, depenavam o frigorífico, falavam de boca cheia e apalpavam os testículos com as duas mãos, como almofadas anti-stress.

Mas Ava pelava-se por toureiros, como o homérico Dominguin – quando a diva pousava em Madrid, os touros acordavam banhados em suor, cientes de que perderiam as orelhas, o orgulho e a vida, não necessariamente por esta ordem. Humphrey Bogart ralhou com Ava: “Metade das mulheres da Terra quer praticar o Kama-Sutra com Sinatra, até decorar tudo na ponta da língua. E preferes esses tipos em collants (meia-calça) e sapatilhas de bailarina!”

Resultado: Frank cumpriu a promessa, esgrimindo umas gilletes com um gume de guilhotina. Mas um amigo ligou para o 112 e safou-o da poça de sangue. Teimoso como uma mula enamorada, Sinatra parou de comer. Num ano a pão e água, chegou aos 48 quilos – parecia um holograma de si próprio. Aí, preferiu viver. Embolsou o Oscar de melhor ator e gravou a celestial série de discos da Capitol – uma Suma Frankológica, com excruciantes ‘torch songs’ (canções de fossa), de uma vulnerabilidade viril.

Um minuto de silêncio, por obséquio. Foi a última vez na história que os gostos da elite e das massas coincidiram.

 

publicado por otransatlantico às 16:35
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Sexta-feira, 6 de Agosto de 2010

LIVROS? DEUS ME LIVRE! 1 e 2

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LIVROS? LIVRA! (1)

 

Hoje em dia, quem espreitar a montra (vitrine) de uma livraria verá algo inopinado: a maioria dos autores é da TV. E não só cá: na Inglaterra e nos EUA, os hits são o livro de receitas de Jamie Oliver, e ‘ABC of Sex’ e ‘Supernanny’, de apresentadoras de TV. A diferença é que cá os VIP da TV nos infligem romances sem dó nem piedade, à sangue-frio (mas não o de Capote).

Aliás, em Portugal não há quem não queira escrever um romance (o que seria um bom sinal, se ao menos também os lêssemos). Ah, pavonear a nossa obrinha na estante da sala, entre o Camões e o Pessoa! E, agora que o homem bateu a bota, o Saramago, com o seu Nobel lindinho. Ora, nada mais fácil: como ouvi de alguém, todo o livro deve ser feito como um relógio e vendido como uma salsicha (só que o relógio é dos ciganos, e é mais fácil digerir uma banana de dinamite do que esta salsicha).

Dizia-se que a TV mataria a literatura, mas ela foi mais esperta: reciclou-a em iliteracia encadernada – os analfabetos funcionais são leitores vorazes. Há muito que os escritores se apearam da torre de marfim e vendem o seu peixe na ágora – em vão. Hoje, nem que Shakespeare ressuscitasse venderia um milésimo de qualquer boçalidade assinada por um tipo que lê o boletim meteorológico na TV. Hoje, as pessoas compram livros como quem compra a ‘TV Guia’ ou a ‘Nova Gente’. Uma imagem vale por mil palavras? OK, então agora tentem dizer isso em imagens… Culpa dos editores? Sim, mas não só: alguns editores são escritores falhados, mas isso a maior parte dos escritores também é.

Nunca fui populista em relação à cultura (nem a nada), mas não me agrada conversar com autores que escreveram mais do que leram.

Bem sei que Cervantes e Dickens foram popularíssimos em vida, mas hoje há algo de contranatura num ‘best seller’ genial. Já imaginaram um Kafka a dar autógrafos num hipermercado? Seria a coisa mais kafkiana de sempre. Será que todos os que compram Saramago e Antunes os devoram? Ou é só para condizer com os ‘bibelots’ da estante da sala?

A literatura de verdade tem a ver não com campeões de audiência, mas com duas solidões: numa extremidade, a do escritor a escrever; na outra, a do leitor a ler. O resto é fábrica de adubo.

E os escritores televisivos urdiram uma cilada para os autores literários. Até ontem, eis uma das raras vantagens em ser-se um romancista lusófono: escrever consistia na única profissão em que ninguém era considerado ridículo se não ganhasse dinheiro. Hoje, nem isso.

Com o cotovelo em estado de coma, estou quase a entrar na dança e a apregoar: não precisam ler os meus livros – basta comprá-los! Mas, não, essa livralhada não é para mim. Assim como não é a daqueles escolásticos que sabem tudo sobre a literatura – menos como divertir-se com ela.

(Esta crónica continua para a semana. Não percam os próximos parágrafos, cheios de sexo e violência!)

 

LIVROS? LIVRA! (2)

 

Quando critico a logorreia dos livros televisivos excluo as obras dos telejornalistas. Profissionais da escrita, não fazem parte da salsicharia editorial. Mas celebridade não é reputação – não é por trabalharem na TV que os seus romances são melhores ou piores.

Todos ouvimos falar na morte do livro, na morte do autor, na morte do leitor. Os computadores nunca substituirão os livros: não se pode subir numa pilha de CD para chegar à prateleira de cima.

E a TV? OK, comparados com esta, os livros vacilam. As imagens televisivas são um veículo perfeito: correspondem ao que representam. As palavras impressas, não. Não passam de marquinhas negras no papel – têm de ser decifradas, numa operação mental complexa, que requer concentração e introspeção. A civilização nasceu sobre tal operação. Conseguirá sobreviver sem ela?

Os programas literários na TV? Louváveis. Mas defender que conseguem salvar a literatura equivale a acreditar que é possível convencer um miúdo de oito anos de que beijar uma jovem pode ser mais divertido do que comer um gelado (sorvete).

Os riscos da cultura na TV são ou o reducionismo ou o cabotinismo. Quanto ao primeiro, ouvi um apresentador explicar que «prosa é quando todas as linhas, menos a primeira, chegam até à margem. Poesia, não.» Dicas para a apreciação? Ora, a crítica às vezes assume a forma: «tens talento e eu não, e claro que isso não pode continuar assim». Em compensação, arrasar uma coisa, sobretudo se é emproada e presunçosa, constitui um sadismo delicioso. Enfim: é muito mais fácil ser crítico do que ser justo.

Sobre o programa da Bárbara Guimarães já falei. Nunca fui entrevistado por ela (claro que a noite ainda é uma criança*), mas um escritor deve sentir o mesmo que Dante sentiu quando Virgílio o confiou à Beatriz – a entrar no Céu. Já Francisco José Viegas denota uma cordialidade um tanto esfíngica, mas que nunca descamba na descontração oca e pateta. E dá a impressão de que realmente leu as obras cujos autores interpela (não calculam o quanto isto é raro). Ana Sousa Dias deixava os convidados falarem – só por isso, devia ser beatificada. Paula Moura Pinheiro tem uma certa tendência a pontificar. Porém, eu lhe perdoaria tudo, se ao menos ela parasse um bocadinho de simular aspas com os dedos (nem que para tanto fosse necessário roer as unhas).

Divulgar os livros na TV é uma tarefa árdua. Mas pensem nisto: a literatura é muito mais apaixonante que a própria existência. Observem a vida real. Convenhamos: a ação é repetitiva, os diálogos bastante fracos e o início e o fim sempre iguais.

 

(* Depois desta crónica, publicada no Expresso, fui entrevistado pela Bárbara Guimarães. Quem não chora, não mama)

publicado por otransatlantico às 19:53
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Quinta-feira, 5 de Agosto de 2010

CHURCHILL E OS CHARUTOS

churchill.jpg

 

 

Um belo dia, Freud estava a fumar e o paciente no divã grunhiu-lhe que o charuto é um símbolo fálico. O pai da Psicanálise engasgou-se, ficou da cor de um carro de bombeiros e esboçou um sorriso amarelo: “Às vezes, um charuto é apenas um charuto”.

Para Winston Churchill, um charuto nunca era apenas um charuto, mas também um adereço mediático, um florete retórico e um prazer quase (presumivelmente…) incomparável. É o que realça o encantador livrinho Churchill´s Cigar, de Stephen McGinty, no fundo uma biografia transversal daquele que os espectadores da BBC elegeram o maior britânico da História. Churchill, de fato, foi um dos supremos paus para toda a obra de sempre: político genial, soldado valoroso, escritor brilhante (Nobel de Literatura) e pintor aceitável (mais de 500 telas, com exposição individual na Royal Academy, em 1959).

Expeliu a sua primeira baforada aos 15 anos, e nunca mais parou. Começava ao pequeno-almoço (café da manhã), e a média eram sete por dia – o que dá cerca de 180 mil ao longo da vida. O que o espectro do titã diria da nossa época antiséptica, para a qual o fumador é um híbrido de leproso com serial-killer? Talvez se contentasse em assinalar que morreu aos 90 anos. Ou talvez acrescentasse que o seu inimigo figadal (e nosso, já agora), o velho e mau Adolf Hitler, não bebia, não fumava e era vegetariano. Sim, o Fuhrer gostava de apregoar: “Não bebo, não fumo, durmo muito. É por isso que estou cem por cento em forma”. Até que Churchill perdeu as estribeiras e espumou-lhe: “Bebo como uma esponja, sofro de insónias e fumo como uma chaminé. É por isso que estou 200 por cento em forma”.

Eis um fascinante instantâneo de Winston no seu escritório: “Não inalava o fumo. Soprava-o em meditativos balões, ficando por vezes a olhar para eles como se fossem lagos com peixes, ou como se tivesse deixado cair qualquer coisa valiosa lá dentro e procurasse encontrá-la”.

Não era certamente a jovialidade, pois esta ele jamais perdeu. Como em certas reuniões do Ministério: “Fumava em silêncio, deixando que a cinza crescesse até representar metade do comprimento do charuto. Os ministros ficavam hipnotizados por aquele aparente desafio às leis da gravidade e quase esqueciam o que estava a ser dito, à espera de que a cinza caísse”. O que ignoravam é que o primeiro-ministro tinha espetado um longo alfinete no charuto, e era isso que estava a sustentá-la…

Um “puro havano” foi batizado com o nome do estadista, que uma vez confessou: “Tenho sempre Cuba nos meus lábios”. E na praça principal de Churchill, uma cidade pacóvia (caipira) da Austrália, foi erigido um monumento de 40 metros de altura, conhecido como ‘O Grande Charuto’. OK, é um monstrengo kitsch, como os seus conterrâneos ‘A Grande Banana’, ou ‘O Grande  Koala’.

Mas o que conta é intenção. Churchill sabia disso. E sabia também que, como os charutos acabam em cinzas, também nós temos de voltar ao pó. O que nunca o impediu de agradecer a Prometeu, por ter roubado o fogo aos deuses. Onde há fogo, há fumo.

publicado por otransatlantico às 11:34
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Quarta-feira, 4 de Agosto de 2010

O IMPACIENTE INGLÊS

Pigs Have Wings (4CDs) - PG Wodehouse read by Martin Jarvis

 

 

Segundo ele, para um escritor na América das primeiras décadas do século passado, “trabalhar sem três nomes era como sair de casa nu em pêlo”. Já que não gostava lá muito de chamar-se Pelham Grenville, optou por P.G. Wodehouse como “nom de plume”. Este gênio (para ser cientificamente escrupuloso, quase picuinhas) do humor anglo-saxónico nasceu em Hong-Kong, foi educado em Inglaterra e viveu na América (incluindo Hollywood).

O sujeito era uma máquina de escrever: ninguém até hoje delimitou a sua obra, pois publicou títulos sob numerosos pseudónimos. Em 93 anos de vida, lançou pelo menos 96 livros, assinou 16 peças de teatro e compôs a letra (ou o libreto) de 28 musicais (alguns com Jerome Kern). Mas, atenção: “O Código dos Wooster” está entre os quatro primeiros volumes – em capa dura – que a Everyman Library editou há dois anos, numa esplêndida seleta de Wodehouse.

Em 1914, ele ainda patinava. Nos anos 20, porém, a sua obra já lhe rendia 200 mil dólares anuais. Mas era a antítese do mercenário: desde que tivesse fumo para o cachimbo, estava contente da vida, todo lampeiro. Aliás, pessoalmente, este autor cintilante era mortiço e tímido. A mudar-se para Nova Iorque, rogou à mulher que alugasse um andar no rés-do-chão (térreo): “Nunca sei o que dizer nos elevadores”. Em 1951, sofreu uma ameaça de enfarte em plena Park Avenue, e cambaleou para um consultório médico, mais morto do que vivo, branco como um lírio. O doutor fungou: “Que mendigo…” A enfermeira corrigiu-o: “Não, é um inglês”.

Um dos segredos da prosa de Wodehouse consiste na reciclagem elítica dos clichês. Como nas suas supremas figuras, que desconstroem os arquétipos britânicos: o cerebral mordomo Jeeves, e o seu mentecapto patrão, Bertie Wooster. Snobismo ingles? Só regada com repuxos de verve epigramática. Como assinalou o próprio autor, “Jeeves conhece o seu lugar: é entre as duas capas de um livro”. P. G. consumou aquilo a que Flaubert aspirava: escrever um romance sobre nada. Nicles. Patavina. Bulhufas. Uma espécie de vórtice do vácuo.

No fundo, ele conta sempre a mesma história, com palavras diferentes. Trata-se de um tardio e derradeiro expoente de uma admirável estirpe de artistas: os praticantes da “commedia dell’arte”, que manipulavam protótipos como o Polichinelo ou o Arlequim. Como Wodehouse observou, “faço algo como uma comédia musical sem música”. A música, claro, pulsava no texto. Modernismo ou anacronismo? Ambos. Evelyn Waugh, que escreveu penetrantes ensaios sobre Wodehouse, é quem descobriu a pólvora: “Jeeves e Berti Wooster habitam um mundo intemporal, como o de ‘Alice no País das Maravilhas’”.

Mesmo na nossa era tão desinibida e exibicionista, não nos importamos com a conspícua ausência de sexo nesta obra. Como realçou um biógrafo, “os gentlemen de Wodehouse não reconheceriam uma cama de casal”. Ora, não se pode ter tudo – e, neste caso, quase tudo é mais do que o suficiente.

publicado por otransatlantico às 01:54
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Domingo, 1 de Agosto de 2010

ENTREVISTA JAVIER CERCAS

 


 

 

«O ESCRITOR NÃO PODE SER COBARDE»

 

Javier Cercas lançou em Portugal «A Velocidade da Luz», o primeiro romance depois do fenómeno «Os Soldados de Salamina», aclamado pela crítica internacional e com mais de um milhão de leitores só em Espanha. Após “A Velocidade da Luz” vieram “A Verdade de Agamemon” e “Anatomia de un instante”, este eleito o melhor romance espanhol de 2009 pelo suplemento cultural do “El País”, o “Babelia”.

 

 

 

 

Apesar da excelência dos livro anteriores, como «O Inquilino», Javier Cercas somente se tornou uma celebridade em Espanha – e a seguir no mundo – com a publicação do romance «Os Soldados de Salamina», em 2001. Esta obra, apadrinhada por Vargas Llosa, conquistou vários prémios cobiçados, vendeu 1 milhão de exemplares apenas em solo espanhol e está traduzida para mais de 20 idiomas. O livro foi também adaptado para o cinema, por David Trueba (o irmão mais novo de Fernando Trueba). Curiosamente, há sete anos Javier Cercas, na condição de jurado, ajudou a atribuir o prémio Cervantes de 2003 a Rafael Sanchez Erlosio, filho de Rafael Sanchez Maza, falangista histórico e personagem principal de «Soldados de Salamina». A publicação do romance seguinte de Cercas, finalmente intitulado «A Velocidade da Luz», gerou em Espanha enorme expectativa. No meio da sua composição, o escritor chegou a pensar em renegar o projeto, questionando a sua própria legitimidade para escrever sobre a Guerra do Vietname (um dos panos de fundo do livro). Foi então que Susan Sontag (autora do ditirâmbico prefácio da edição americana de «Soldados de Salamina») o encorajou a persistir, num jantar em Barcelona. Provavelmente, um dos juízos mais sensatos da falecida ensaísta.

 

 

 

Paulo Nogueira: Depois do sucesso estrondoso de «Soldados de Salamina», sentiu-se pressionado para escrever o romance seguinte? Por si mesmo e pelos outros? Sentiu medo? Talvez de si próprio?

Javier Cercas: Não, medo de mim não senti. Talvez uma certa vertigem… Afinal, este livro se chama «A Velocidade da Luz» (risos). Não, definitivamente não. Quando começa a escrever, o autor está sempre só, e não há nada a fazer senão seguir em frente. Todos os romances são exorcismos, e este não o foi mais do que os anteriores.

PN: Mas creio que chegou a falar em «artilharia da crítica» e em «espadas desembainhadas»...

JC: Na verdade, foi o meu editor quem sugeriu que este romance se intitulasse «Esperam-te Com Toda a Artilharia». Segundo ele, depois de um sucesso internacional há sempre muita inveja, e algumas pessoas, enfim, querem ver sangue… Mas, em última análise, em Espanha a crítica foi muito mais elogiosa em relação a este romance do que a «Soldados de Salamina», que passou quase despercebido…

PN: Apesar do artigo laudatório de Mário Vargas Llosa?

JC: Ah, isso foi mais tarde. Já tinham saído as críticas todas. Mas, claro, os críticos tem que fazer o seu trabalho – e alguns são bons e outros são maus, como os escritores. Quanto a mim, até a «Os Soldados» os meus livros tinham cerca de três mil leitores, e os «Soldados» vendeu centenas de milhares. Daí que tenha surgido uma expectativa normal, mas um escritor deve ser valente. Não pode ser cobarde. Na vida pode ser cobarde, mas diante do computador não tem esse direito. Senão, dedique-se a outro ofício. Um escritor cobarde é como um toureiro cobarde – uma contradição nos termos. Claro que um êxito assim, repentino e inesperado, acentua a nossa tendência a autodestruição. Mas não pretendo ser cabotino a ponto de dizer que um sucesso não é bem-vindo. O nosso banqueiro, por exemplo, fica radiante (risos). A sério: no mínimo, significa que gostaram do seu trabalho, o que é bom. Cada vez que um leitor abre o nosso livro e o lê, o livro cresce. Um clássico é aquele livro que se lê até hoje, que nunca parou de crescer.

PN: - Mas o sucesso nem sempre é sinónimo de qualidade literária…

JC: Claro que não! E depende do que se entende por sucesso. A única forma de se entender seriamente o êxito é a forma como o escritor escreveu o seu livro. Se tem mais ou menos leitores, não passa de uma casualidade. Há autores fundamentais que nunca tiveram nem nunca terão milhões de leitores. Kafka, por exemplo… Ou Joyce. E no entanto também é tolice pensar que só os romances que venderam pouco são grandes obras. Há romances magníficos que foram e provavelmente continuarão a ser amplamente lidos, como os de Dickens. Ou Cervantes - «Dom Quixote» foi um best-seller já no seu tempo. Não há nenhuma regra, e o êxito seguramente não testemunha nem o mérito de um livro nem a falta dele.

PN: Num romance de Italo Calvino, dois romancistas vizinhos, cada um na sua casa, se observam um ao outro, sem o saberem. Um, celebrado pela crítica, inveja o sucesso comercial do segundo. Este, por sua vez, inveja o prestígio cultural do primeiro. Como se sente, tendo obtido ambas as coisas? Bem, suponho…

JC: Sinto-me um privilegiado. Mas você devia completar essa cena, que é magistral, de um livro que admiro e li muitas vezes. Os dois propõem-se a escrever um romance para agradar a uma terceira vizinha, que é a leitora e está equidistante. O escritor de êxito comercial quer escrever uma obra como a do vizinho que tem o apreço da crítica – e vice-versa. Pois ambos crêem que a leitora está a ler um livro do outro. O que Calvino pretende dizer é que se trata de um falso dilema, tal distinção entre o bom escritor que é desconhecido e o mau escritor que é idolatrado pelo público. De novo, não há regras. É uma história perversa.

PN: Nos «Soldados de Salamina», a Guerra Civil espanhola. N ‘«A Velocidade da Luz», a Guerra de Vietname. Mas fala menos dos conflitos que dos seus fantasmas…

JC: Sim. Não são tanto os homens que passam pelas guerras, como as guerras que passam pelos homens. O tema da guerra interessou-me sempre, literariamente – afinal, é o primeiro tema da literatura, com Homero. Os homens julgam que, na guerra, descobrem aquilo que são. Mas quando escrevo um livro é para solucionar um problema que coloquei a mim próprio, como um teorema. Ou seja, por perplexidade. Claro que, no final, não há solução. Ou melhor, a solução é o próprio processo do romance. Porém o essencial escapa-nos sempre.

PN: A questão autobiográfica n’ «A Velocidade da Luz» é labiríntica. «Parece-se comigo, mas não sou eu», diz o escritor-personagem sobre o protagonista de um romance que está a escrever no seu romance. Como no conto de Edgar Allan Poe, «A Carta Roubada», esconde-se mostrando-se?

JC: Perfeito. É exactamente o que eu diria. Nietzsche disse a mesma coisa mas de outra maneira: falar muito de si mesmo é a melhor forma de ocultar-se. Como a personagem dos filmes de Woody Allen não é Woody Allen – acreditamos que sim mas estamos enganados. O protagonista de «Velocidade da Luz» é uma máscara – e uma máscara revela-nos ao mesmo tempo que nos dissimula. Nesse sentido, é talvez mais profundamente eu do que eu próprio… É um Eu concentrado, uma essência.

 

(Entrevista publicada no suplemento Atual, do semanário Expresso)


publicado por otransatlantico às 20:33
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OSLO QUEBRA O GELO

Ficheiro:OSLO-NO-02 05 ubt.jpeg

 

Gardemoen – o aeroporto internacional de Oslo – começa logo por quebrar o gelo: é um dos mais modernos e bonitos do mundo, e prenuncia que vale a pena visitar a capital da Noruega mesmo no glacial Inverno nórdico. Já nas manobras para a aterragem, descortinamos as encantadoras florestas que rodeiam Oslo, com as copas das árvores polvilhadas de neve, como uma extensa vitrine de algodão-doce.

A Noruega esteve por longos anos integrada quer à Suécia quer à Dinamarca – a independência veio só em 1905. Hoje é uma monarquia constitucional. Ou seja, a Família Real, apesar de estimada e respeitada, tem um papel apenas decorativo (o que não deve ser difícil, já que são sempre loiros, altos e de olhos azuis). Oslo foi fundada pelos Vikings e mudou de nome várias vezes: em 1925 fixou-se no atual.

Os Noruegueses em geral, e os da capital em particular, são de uma hospitalidade irrepreensível. Toda a gente fala um Inglês oxfordiano – excepto os hooligans ingleses, quando lá vão demolir a cidade por causa de um jogo de futebol e umas panças de cerveja. Porém, como os locais são descendentes dos Vikings, aqueles vândalos levam o troco. Aliás, embora tratem a bola como se ela fosse quadrada (deve ser por isso que a letra O deles é cortada ao meio), os Noruegueses adoram o futebol: há 1800 clubes no país. Sempre que revelei a minha origem, ouvia as palavras mágicas, num tom embevecido: “Cristiano Ronaldo!”

Mas o desporto predileto é o esqui, que eles inventaram. Até hoje, qualquer cidadão tem o direito de esquiar através da propriedade alheia, desde que não esteja cultivada. Há na região de Oslo uma área chamada Marka, que abrange nada menos que 2000 km de trilhos largos de esqui – também há trilhos estreitos para quem prefere esquiar sozinho. Confesso que experimentei, mas ia partindo uma perna – felizmente, era a de outra pessoa (talvez por isso toda gente ao pé de mim preferisse os trilhos estreitos).

 

 

Oslo-Museum Vikingships

 

A Noruega é um dos maiores países da Europa, mas tem só 4,5 milhões de habitantes, 500 mil dos quais na capital. São leitores ávidos: em média, cada lar compra 1,7 jornais por dia. Com uma população tão reduzida, já embolsaram três Nobel de Literatura. O mais famoso escritor norueguês, Henrik Ibsen, não foi a tempo de ganhar o prémio, mas revolucionou a dramaturgia mundial e uma peça dele (O Inimigo do Povo), inaugurou em 1899 o imponente Teatro Nacional.

O Teatro Nacional fica na Karl Johans Gate, a principal e mais badalada artéria de Oslo, percorrida diariamente por 100 mil pessoas. Nela situam-se também o Palácio Real, o Parlamento e a Universidade. Ao pé estão a Galeria Nacional e o Museu Histórico – e armazéns, restaurantes, lojas, cafés e ringues de patinagem. Mesmo no Inverno gélido, a vida nocturna ali fervilha (o que não quer dizer que sejam os maiores boemios do mundo: afinal, antes das quatro da tarde já é noite).

A Galeria Nacional é obrigatória. É lá que pontifica O Grito, de Edvard Munch, apelidado de “a Monalisa do século XX”. Depois da II Guerra, o quadro – precursor do Expressionismo – tornou-se um ícone pop e um dos mais reproduzidos da História, não apenas em cartazes como também em canecas, canetas e porta-chaves. Em 1961, foi capa da revista Time, numa edição dedicada aos complexos de culpa e ansiedade. Nos anos 80, Andy Warhol realizou uma série de trabalhos inspirados em Munch, que incluem uma “reinterpretação” d’ O Grito. Em 1991, o muralista Robert Fishbone criou uma versão boneco insuflável, que vendeu milhares de cópias em todo o planeta. No filme de terror O Grito, um assassino psicopata esconde a sua identidade sob uma máscara da criatura andrógina concebida por Munch. Para desopilar, o quadro apareceu duas vezes n’ Os Simpsons. Em 2006, o Google celebrou o seu aniversário alterando momentaneamente o seu logótipo para citar O Grito.

 

 

 

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Em 12 de Fevereiro de 1994, a tela foi roubada da Galeria Nacional em pleno dia. Os ladrões deixaram uma mensagem irónica: “Obrigado pela falta de segurança” – e exigiram um resgate de 1 milhão de dólares. A obra foi recuperada com a ajuda da Scotland Yard. Em 22 de Agosto de 2004, O Grito foi de novo levado por ladrões (na Noruega não existe o ditado “casa roubada, trancas à porta). E de novo recuperado, mas com danos que os críticos consideram irreparáveis (é o costume: os críticos estão sempre a criticar – a mim O Grito pareceu-me bem, isto é, pavoroso). É significativo que o quadro emblemático do Renascimento seja uma beldade com um sorriso açucarado – ao passo que a tela representativa da contemporaneidade mostre alguém a berrar com aquilo que parece a maior enxaqueca de sempre.

Também nas imediações da Karl Johans perfila-se a Câmara Municipal, inaugurada em 1950 para comemorar os 900 anos da cidade. O projecto que ganhou o concurso público, dos arquitectos Arneberg e Poulsson, é um ousado marco modernista – tão audaz que levou muito tempo até que os munícipes o engolissem sem uma careta. A sala principal ocupa uma área de 1,5 quilómetros quadrados, e contém a maior pintura a óleo da Europa, de Henrik Sorensen. É lá que, no mês de Dezembro, ocorre a entrega do Prémio Nobel da Paz.

Distantes do centro, duas atrações imperdíveis. Uma é o Museu dos Barcos Vikings, em Bigdoy. As embarcações expostas foram usadas para transportar os corpos dos chefes supremos na sua última viagem ao reino dos mortos. Os chefes naturalmente não voltaram, mas os barcos sim, quase tão obedientes como bumerangues. E ainda bem: são de uma graciosidade requintada que refuta o estereótipo dos vikings como uns trogloditas glutões. A outra atração é o prodigioso Vigelandsparken, visitado anualmente por 2 milhões de pessoas. O maior parque de Oslo recebeu o nome do escultor Gustav Vigeland, cujas 212 esculturas povoam o eixo central e representam toda a Humanidade. Só o Monolito, de 17 metros de altura, é composto de 121 figuras humanas interligadas. Mas a escultura mais célebre do ciclópico conjunto é A Criança Zangada, a representação mais aterrorizante de uma birra infantil (com a possível exceção das do meu filho).

 

 

 

Northern Lights (Aurora Borealis) in Tromso

 

Quem tiver mais algum tempinho, sugiro um salto a Tromso, a “Paris do Norte”, a 1 hora e meia de voo de Oslo. Já no Círculo Polar Ártico, tem (sem falar no Museu do Pólo) uma das mais fascinantes catedrais modernistas e, sobre ela, com um pouco de sorte você verá um milagre: a Aurora Boreal, esse caleidoscópio celeste.

A Noruega também é famosa pelos seus fiordes, majestosas formações geológicas que são como enseadas longas e estreitas, serpenteando e embrenhando-se pelas montanhas. A capital possui o seu: o Oslofjorden, com uma zona de recreação estival apinhada de barcos. A comida típica norueguesa inclui o nosso familiar bacalhau, salmão, arenque e os ecologicamente blasfemos bifes de rena e baleia. Dos cetáceos me abstive (disseram-me que sabem a fígado, o que para mim foi mais do que o suficiente). Mas – minha culpa, minha máxima culpa – confesso que saboreei um avantajado naco de rena. E repeti. Sim, sim, já sei: este ano o Pai Natal não vai me dar nem um alfinete.

 

(TEXTO PUBLICADO NA REVISTA "ÚNICA", do SEMANÁRIO "EXPRESSO")

publicado por otransatlantico às 11:33
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