O meu Francês não é muito bom. Outro dia, em Paris, fui pedir o isqueiro a um transeunte para acender o cigarro e lhe pedi que me ateasse fogo. E, sem querer, dei com o recôndito “Musée du Fumeur”, pertinho do Père Lachaise. Sim, eu sei: é que os fumadores estão por definição a um passo do cemitério.
Entre ‘sheeshas’ egípcios e cachimbos da paz sioux, deparei com o cartaz: ‘No Smoking!’ (um primo meu, que sabe Inglês quase tão bem como sei Francês, julgou que era proibido usar smoking). No próprio museu do tabaco, anti-tabagismo primário! Ainda ontem, os Franceses esgrimiam os seus Gauloises como floretes de D’Artagnan. Por ocasião da cremação de Jean Cocteau, um fã suspirou languidamente: “Este querido poeta! Extingue-se como um cigarro!”
Desde 1 de Setembro de 2009, não se pode fumar nas repartições públicas da Alemanha, nem nos comboios (trens). Bem, Hitler abominava o tabaco (e era abstêmio e vegetariano – só gostava de carne para canhão e daqueles discursos-chiliques).
Nos clubs e pubs ingleses, gerações de escritores (de Oscar Wilde a Philip Larkin) sugaram inspiração dos seus charutos e louvaram Sir Walter Raleigh, o pirata-cavalheiro que trouxe o tabaco para Europa. Hoje, seriam multados em 75 libras. Na própria terra de Marlboro, os Estados Unido da América, já só se pode fumar debaixo da cama.
Há meses, a Disney anunciou a proibição de cenas de fumo nos seus filmes para adultos. Ah, os penachos que se evolavam das piteiras de Marlene Dietrich e Rita Hayworth! Conseguem imaginar Humphrey Bogart com um chupa-chupa (pirulito) a pender dos lábios sardônicos? Na França, arrancaram dos corredores do Metropolitano os cartazes de um “biopic” sobre Serge Gainsbourg, porque ele aparecia com um Gauloise entre os dedos.
Hoje, para a Sétima Arte, só os serial killers é que fumam. Bom, talvez os pedófilos também – e eventualmente os canibais. E, sobretudo, os serial killers pedófilos canibais.
Admiro aquele fulano que ficou tão horrorizado com o que leu sobre os efeitos da nicotina que parou de ler. Ora, a moderação é a regra de ouro. Nunca fumo mais de um cigarro de cada vez, e evito fumar a dormir. Li “The Cigarette Century”, de Allan Brandt. O século é o XX. No XXI, fumo só mesmo no museu. Em 1964 ficou provado que o tabaco provoca cancro (câncer) no pulmão. OK, mas a vida não é apenas quantidade: é também “joie de vivre”. O fumo combate o tédio, controla a ansiedade, proporciona consolo e é elegante (bem, mais do que um palito de dentes a bailar nos beiços babões).
Entendo a ira dos fumadores passivos (admito que ser passivo não deve ser mole). Há uns 20 anos, um tio meu estava num comboio (trem), no compartimento para não fumadores. Quando alguém empunhou um maço e lhe perguntou se se importava que fumasse, o meu tio sorriu seraficamente: “Claro que não, se não se importar que eu vomite.”
Mas é pura mentira (uma conspiração do comunismo capitalista, com a conivência diligente da AlQaeda e do Mossad) que o tabaco cause habituação. Falo por experiência própria, pois fumo há décadas. Claro que, fumando como fumo, em breve não precisarei mais de pedir isqueiros emprestados a franceses pirômanos. Afinal, onde há tanta fumaça, tem de haver um foguinho.
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