A máquina fotográfica é como o pai de um hipotético bebé de Paris Hilton: só os eunucos não são suspeitos da autoria. A própria palavra “câmara” é uma relíquia da “camera obscura”, que Leonardo da Vinci descreveu nos seus abstrusos cadernos. Também meteram a colher Daguerre, Talbot, Eastman. Este lançou em 1888 a sua primeira Kodak, nome escolhido por causa do K, “uma letra incisiva e forte nas duas extremidades” (em Praga, um certo Franz, segundo o qual a vida é uma praga que alguém nos rogou, concordaria).
Entretanto, em Paris, Nadar fotografava titãs culturais como Balzac, Baudelaire, Wagner. E grunhia: “A fotografia é uma arte que pode ser praticada por qualquer imbecil.” A foto sedimentou os tiques modernos: o instantâneo e o múltiplo. E libertou os pintores do figurativismo. O que gerou diálogos inopinados na rua: “Oh, que lindo bebé, o seu!” “Ah, mas isso não é nada! Devia ver a fotografia dele!” E Marlene Dietrich ralhou com o seu fotógrafo: “Que diacho se passa consigo? Há anos fazia-me parecer maravilhosa!” “Eu sei”, respondeu o coitado, “mas nessa altura eu era muito mais novo”.
O mais belo objecto do mundo é uma máquina fotográfica: a Leica, esgrimida de Kertész a Friedlander, de Cartier-Bresson a Sebastião Salgado. Nasceu porque o seu inventor, o alemão Oskar Barnack, sofria de asma e não era capaz de carregar os trambolhos existentes de um lado para o outro qual burro de carga. Quando a Leica despontou, em 1925, uns paspalhões gozaram: parecia um brinquedinho de mala de senhora!
Aliando forma e função, lembrava antes um design da Bauhaus. Enquanto uma Nikon ou uma Canon implicam um manual de instruções tipo Antigo Testamento, a Leica abana o rabiosque na palma da nossa mão, como um cachorrinho suplicando para ir dar uma volta ao quarteirão e fazer umas travessuras. Cartier-Bresson, que comprou a sua em 1932, em Marselha, quando vegetava como menino mau de uma família boa, ronronou: “Ela é a extensão óptica dos nossos olhos”.
Por um triz não se chamou ‘Lilliput’, mas alguém sensato desaconselhou Barnack. A série M é a das Leicas clássicas, sobretudo a M3 (6 mil euros a unidade). Com o foco e o cálculo da exposição manuais, não é para mariquinhas – nada de pilotos automáticos! A rainha Isabel II tem uma M3 desde 1958, e fez questão de posar com ela num selo postal. Coisa do passado? Uma espécie de Flintstone das câmaras? Dobrem essas línguas! Este ano, o site eBay sondou os internautas: “Qual o supremo gadget de todos os tempos?” O Game Boy ficou em quarto, o Walkman Sony em terceiro, o iPod em segundo e – tchan, tchan, tchan! – a Leica em primeiro.
Provou-se uma verdade universal. Eis outra, também na esfera fotográfica: se te pareces com a fotografia no teu passaporte, é porque estás a precisar de umas férias urgentes.
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