Sábado, 5 de Junho de 2010

Uma folha de parra, sff

http://www.geos.ed.ac.uk/homes/s0456225/Tromso.jpg

 

TROMSO: OBSCENAMENTE LINDA

 

 

Dentro de dias, vou a Tromso (Noruega), 300 kms acima do Círculo Polar Árctico, ver a aurora boreal (se ela não der uma nega aos mirones, como às vezes acontece). Mais um avião, agora com as novas medidas anti-terror. Será que brutamontes irão apalpar-me as partes e exibir nos plasmas do aeroporto os meus países-baixos, em Alta Definição e 3-D? (Não, não é que eu tenha algo a esconder, ou pelo contrário!) Como disse B. Franklin, “quem deita fora a liberdade essencial para obter uma pequena segurança não merece nem liberdade nem segurança”. Mas a maioria de nós apoia o endurecimento (salvo seja) – afinal, para usufruir de direitos como a liberdade e a privacidade, é necessário estar vivo. O problema é o limite: onde o ónus excede o bónus? O “racial profiling” ofende o nosso senso de justiça. Há algo de execrável em suspeitar de milhões de cidadãos como criminosos só por causa de características étnicas. E, como mostrou o quase atentado no Natal passado e em Times Square mais recentemente, não há vigilância 100% infalível em 100% do tempo. Como observou Hobbes, “o mais fraco dos homens tem força bastante para matar o mais forte”. A partir de determinado nível de segurança, dependemos da sorte. E ninguém mais sortudo do que Tsutomu Yamaguchi, um japonês que morreu na semana passada, aos 93 anos. Ele sobreviveu à explosão da bomba atómica em Hiroxima, em 1945, voltou para a sua casa, em Nagasaki – e sobreviveu também à explosão nessa cidade, dois dias depois. Nas duas bombas, estava a menos de 1 km do epicentro da explosão, e sofreu apenas ruptura dos tímpanos. Dos 200 mil mortos nas duas cidades, milhares estavam mais longe do “marco zero” – e sucumbiram ao calor, intoxicação, desmoronamentos ou desenvolveram algum cancro. Yamaguchi gozou de tanta saúde pelos quase 60 anos seguintes que nunca participou de manifestações antinucleares – não se sentia com a legitimidade de quem foi “realmente atingido”. OK, mas eu, se fosse ele, tinha ao menos ido a correr jogar no Euromilhões.

 

(Texto publicado na revista Domingo, do Correio da Manhã)

publicado por otransatlantico às 16:54
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