Segundo ele, para um escritor na América das primeiras décadas do século passado, “trabalhar sem três nomes era como sair de casa nu em pêlo”. Já que não gostava lá muito de chamar-se Pelham Grenville, optou por P.G. Wodehouse como “nom de plume”. Este gênio (para ser cientificamente escrupuloso, quase picuinhas) do humor anglo-saxónico nasceu em Hong-Kong, foi educado em Inglaterra e viveu na América (incluindo Hollywood).
O sujeito era uma máquina de escrever: ninguém até hoje delimitou a sua obra, pois publicou títulos sob numerosos pseudónimos. Em 93 anos de vida, lançou pelo menos 96 livros, assinou 16 peças de teatro e compôs a letra (ou o libreto) de 28 musicais (alguns com Jerome Kern). Mas, atenção: “O Código dos Wooster” está entre os quatro primeiros volumes – em capa dura – que a Everyman Library editou há dois anos, numa esplêndida seleta de Wodehouse.
Em 1914, ele ainda patinava. Nos anos 20, porém, a sua obra já lhe rendia 200 mil dólares anuais. Mas era a antítese do mercenário: desde que tivesse fumo para o cachimbo, estava contente da vida, todo lampeiro. Aliás, pessoalmente, este autor cintilante era mortiço e tímido. A mudar-se para Nova Iorque, rogou à mulher que alugasse um andar no rés-do-chão (térreo): “Nunca sei o que dizer nos elevadores”. Em 1951, sofreu uma ameaça de enfarte em plena Park Avenue, e cambaleou para um consultório médico, mais morto do que vivo, branco como um lírio. O doutor fungou: “Que mendigo…” A enfermeira corrigiu-o: “Não, é um inglês”.
Um dos segredos da prosa de Wodehouse consiste na reciclagem elítica dos clichês. Como nas suas supremas figuras, que desconstroem os arquétipos britânicos: o cerebral mordomo Jeeves, e o seu mentecapto patrão, Bertie Wooster. Snobismo ingles? Só regada com repuxos de verve epigramática. Como assinalou o próprio autor, “Jeeves conhece o seu lugar: é entre as duas capas de um livro”. P. G. consumou aquilo a que Flaubert aspirava: escrever um romance sobre nada. Nicles. Patavina. Bulhufas. Uma espécie de vórtice do vácuo.
No fundo, ele conta sempre a mesma história, com palavras diferentes. Trata-se de um tardio e derradeiro expoente de uma admirável estirpe de artistas: os praticantes da “commedia dell’arte”, que manipulavam protótipos como o Polichinelo ou o Arlequim. Como Wodehouse observou, “faço algo como uma comédia musical sem música”. A música, claro, pulsava no texto. Modernismo ou anacronismo? Ambos. Evelyn Waugh, que escreveu penetrantes ensaios sobre Wodehouse, é quem descobriu a pólvora: “Jeeves e Berti Wooster habitam um mundo intemporal, como o de ‘Alice no País das Maravilhas’”.
Mesmo na nossa era tão desinibida e exibicionista, não nos importamos com a conspícua ausência de sexo nesta obra. Como realçou um biógrafo, “os gentlemen de Wodehouse não reconheceriam uma cama de casal”. Ora, não se pode ter tudo – e, neste caso, quase tudo é mais do que o suficiente.
. ...
. E AGORA, COM VOCÊS, HITLE...
. “CONSIDEREI ESCREVER UM R...
. CLARO QUE ELE ADORA PITBU...
. ALTA COSTURA E ALTA CULTU...
. ALICE NO PAÍS DAS MARAVIL...
. CASAIS DE ESCRITORES: PAL...
. LIVROS? DEUS ME LIVRE! 1 ...
. ÇA VA?
. RESORT 1 ESTRELA (NO PEIT...
. O ETERNO RETORNO DO ETERN...
. O BARDO DO FARDO E O TROV...
. ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA D...
. SEXO E OUTRAS COISAS EMBA...
. PUSHKIN, O EMBAIXADOR E E...
. A ÚLTIMA CEIA DO MODERNIS...
. Blogues de Estimação
. O Jardim Assombrado
. O Albergue Espanhol
. O Bibliotecário de Babel
. Ricardo D Ilustrações
. The Elegant Variation
. The Book Bench
. Think Tank
. Horas Extraordinárias
. Goings On
. Ler
. somsencompletelydifferent
. Delito de Opinião
. therestisnoise
. /papeles-perdidos
. No Vazio da Onda
. O Perplexo
. Ciberescritas
. Porta-Livros
. Papeles Perdidos